Quando criança
Aos 10 anos eu descobri a biblioteca de Ourém e que eu podia pegar livros emprestados lá. Muito rapidamente a matemática foi trocada pelos quadrinhos do Zé Carioca, da turma da Mônica, do Pato Donald, Mickey a toda a turma da Disney, eu li até mesmo as histórias da barbie... depois eu passei para os clássicos da literatura brasileira e mundial. Eu me apaixonei pelo Jorge Amado, Machado de Assis e Nelida Piñon, entendi metade de Hamlet, entendi NADA de Objecto Quase (14 anos gente, malzaê). Só parei quando terminei o ensino médio e mudei pra Belém.
Lá pelos 13 energia elétrica e o mundo maravilhoso da televisão chegaram onde a gente morava pra competir com os livros, mas só funcionava entre 6 e 10 da noite, tinha bastante tempo pra leitura.
17 anos, morando com a minha avó. Eu passava pelos menos 4 horas seguidas estudando pro vestibular. Nas demais eu lia as revistas Cláudia (argh!), Isto é (blergh!)e Readest Digest (anh) pra não ter que continuar estudando. Olha o que educação formal faz com as pessoas! A televisão também era uma grande ferramenta de procrastinação.
Nos negros anos da graduação eu mal tinha tempo pra ler o textos das aulas, não sobrava muito pra procrastinar. Me tornei um tanto produtivista e comecei a fazer faxina sempre que não queria estudar, uma maravilha. Louca da limpeza total.
Durante o mestrado piorou. Rolava o combo da alegria: limpeza + leitura (majoritariamente HQs) + televisão + insônia = crise renal e ansiolíticos (porque não?).
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2014. Exeter. Já falei dos essays semanais e dos pesadelos. Os essays precisavam ser perfeitos. Criei uma nova forma de procrastinar: exercícios físicos. Eu corria, nadava, fazia yoga e breakdance. Alguns dias tinha yoga pela manhã, corrida e breakdance no final do dia. Decidi manter só o break 3 vezes por semana. Eventualmente faço yoga também. Incluí filmes, séries e textos de internet sobre política e feminismo na lista de i rather do than study/work.
Mas nas últimas semanas eu atingi o que acredito ser o ápice da procrastinação: estou aprendendo química pra evitar botânica. QUÍMICA! Eu vinha sendo bastante disciplinada. Três artigos por dia. Escrevendo diariamente por duas horas. E aí quando eu percebi estava desenhando a estrutura química do ácido silícico e checando no google se estava certo. Estava, by the way. E por quê? Porque eu deveria estar lendo sobre a fisiologia das plantas e o processo de formação de fitólitos (sim, é tão empolgante quanto parece).
Agora que tô consciente que passei a vida estudando pra não estudar tá rolando uma inception de culpa que não sei aonde vai parar. Só pra vocês saberem o motivo, caso eu volte desse doutorado batendo menos das bolas do que antes.
Fiz alguns workshops sobre escrita acadêmica e recomendaram escrita livre pra limpar a mente. E acabei de ler um capítulo inteiro sobre morfologia de fitólitos. Tinha que parar e colocar todos esses pensamentos pra fora pra poder voltar a ler/escrever sobre plantas.
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